sexta-feira, 5 de maio de 2017

O Lobo da Estepe

     Você já assistiu Naruto? Se não assistiu, acredito que ao menos já ouviu falar. É um desenho japonês que tem como personagem principal um garoto, que quando ainda era um bebê, aprisionaram dentro do coitado, o espírito de um monstro horrendo que quase destruiu toda a sua aldeia, a Raposa de nove caudas. A partir daí, por diversas vezes durante a sua jornada, ele terá que: conversar, lutar e até mesmo unir forças com seu monstro interior.
     Doidera né? Esse tipo de coisa só poderia acontecer na ficção né não?

Mas...

     Você já parou pra pensar que, nós seres humanos, quando por diversas vezes passamos por situações atípicas de nosso cotidiano, chegamos a agir de maneira que nós nem mesmo nos reconhecemos? Você para, põe a mão na cabeça e se pergunta - Meus Deus, eu fiz isso? Mas eu não sou assim!
     Por diversas vezes em nossas vidas estamos propensos a tomar decisões que nem toda vez nos dão tempo de pensar, de ter a noção da proporção que essa escolha atingir. Somos inconsequentes; agimos por impulso. Por impulso? Ou seria por instinto?
          O livro que escolhi trata justamente disso... De nossos “lobos” internos.


      O  Lobo da estepe foi escrito em 1927, por Hermann Hesse (1877-1962), quando tinha 50 anos, a mesma idade do nosso protagonista Harry Haller.
     Harry é um cinquentão aposentado que passa seus dias isolado e tem muito orgulho de ser um outsider, pois o mesmo não  se encaixa na sociedade em que vive e só encontra prazeres terrenos, na leitura de bons livros ou apreciando música clássica.
     “Não sei que prazeres e alegrias levam as pessoas a trens e hotéis superlotados, aos cafés abarrotados, com sua música sufocante e vulgar”
     Devido essa sua dificuldade de encaixar-se como também socializar-se, ele define-se como o Lobo da estepe.

     “Como não haveria de ser eu um Lobo da Estepe e um mísero eremita em meio de um mundo cujo objetivo não compartilho, cuja alegria não me diz respeito!”

     “Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem ar nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível”.
  
     Lendo esse livro, foi inevitável me identificar com Harry, pois o mundo que ele descreve é muito semelhante ao nosso, um mundo que eu também tento mas não consigo entender, onde as pessoas vivem apenas de aparência. 
     Atualmente, as pessoas já não conseguem fazer suas rotinas normais, como ir à academia ou a um restaurante comer algo sem postar uma foto. Ser popular nas redes sociais é o que todo mundo quer. Só se importam com curtidas, visualizações, comentários em suas fotos e se esquecem de realmente viver cada momento, sem se preocupar com status. A sociedade está rotulada, principalmente no universo virtual as pessoas acabam não sendo o que realmente são, tudo isso para seguir a moda e fazer o que todos fazem no momento. Por influências das redes sociais e de outras pessoas, elas acabam apenas procurando ter status e ganharem popularidade, deixando seu verdadeiro “eu” de lado.
   

     Predomina em Harry a angústia e o fato de estar perdido não só no mundo, mais dentro de si mesmo. Bem (o homem) e mal (o famigerado lobo) vivem em fogo cruzado no profundo de sua alma e diferentemente do pobre Naruto (acima citado). Nosso personagem não parece ter a opção de interagir amigavelmente com seu monstro interno. Desnorteado, sabe que esse embate com seu o seu lobo está lhe levando a ruína (com esse fato ele parece já estar conformado). Esse homem que em sua vida nunca encontrara contentamento, possuía apenas duas certezas: a primeira é que em seu interior duas entidades viviam em conflito; a segunda, – que particularmente achei o ápice da obra - é que quando completar cinquenta anos cometerá suicídio. Mas até chegar a data dessa tão esperada “saída de emergência” muita coisa irá rolar.

     Essa estória, que tem uma reviravolta (Eu não vou contar onde nem quando, se quiserem saber é só lerem o livro) nos leva a um desfecho bastante inusitado. O que posso adiantar é que o Sr Harry (que já não achava possível aproveitar nada da vida e estava fadado a esperar sua morte), encontra na vida pequenos prazeres e também aprende e nos ensina grandes lições.

     Fiz escolha dessa obra, lhes sendo bem sincero, não porque algum amigo leu e gostou aí me indicou, nem tampouco porque o autor já ganhou um Nobel de literatura.
     Escolhi ler esse livro porque eu estava ouvindo um programa de rádio, aí um sei lá quem, falou que “todas as pessoas no mundo deveriam ler esse livro ao menos uma vez na vida” e que “o livro foi um divisor de águas em sua vida”. Bom (eu pensei) – Eu faço parte das pessoas do mundo... Então vou ler -.
     Não me arrependi, isso eu garanto a vocês. Eu já me deslumbrava com  a pluralidade humana, esse fato de poder dentro de nós habitarem vários “eus” (sim, somos todos bipolares, ou muito mais que isso). E foi fascinante ver nas palavras do autor, esses “eus” se manifestando e mostrando suas garras.

     Recomendo esse livro a você, que se denomina “outsider”, que se sente deslocado do ambiente em que vive. Pois é importante saber que as vezes é normal nos dividirmos em dois(ou mais), ou simplesmente deixar o lobo fala mais alto...

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